Bom dia, meus queridos.
Uma das coisas que ainda me faz manter o blog é a liberdade de escrever sobre o que quero, quando não existem pedidos para que eu fale de um ou outro assunto relacionado à Biologia.
Hoje especificamente é um desses casos... embora eu não consiga deixar de ver o elo que existe entre o que eu vou escrever e a ciência que estuda a vida, ou seja: a Biologia.
Estive ontem visitando um asilo... na verdade, acompanhando um amigo.
Não sei o que me doeu mais: se vê-lo arrasado por não ter o poder de levar para casa uma pessoa que está lá contra a vontade dele (ele não é o filho, e por isso não tem tutoria sobre a pessoa), ou vê-la tão pequenininha naquela cama, imóvel, mas com uma resignação quase que santa...
Não vou aqui julgar quem a colocou lá, não posso e nem devo... aliás, não foi para isso que vim aqui hoje, e não quero falar dos que foram para os asilos por opção, ou os que encontraram lá o lugar ideal para receber carinho e atenção.
Vim para falar do quanto é importante que como educadores, formemos nossos alunos até o ponto de compreenderem que não há nenhuma fase do nosso 'ciclo vital' em que precisamos de mais atenção do que quando chegamos à hoje denominada 'melhor idade'.
Qual a lógica que nos faz dispensar aos bebês (que ainda não falam, não andam, não entendem nossos problemas) tanta atenção, e negarmos ao idoso senil a mesma atenção?
Por que nos ocupamos de rir das 'coisas de criança', alegando que ainda não sabem o que fazem e não temos a mesma complacência com nossos idosos?
Onde está escrito, que pessoas que foram 'treinadas' para cuidar dos idosos são mais importantes para eles do que o abraço caloroso dos filhos, netos e amigos?
Como podemos tranferir essa missão, e nos equecermos que eles já renunciaram tantas coisas por nós, os seus filhos?
Não sou do tipo que concorda com a idéia de que "bom mesmo era antigamente" . Gosto da minha vida no tempo e no espaço em que ela existe, e sei que minha história só existe porque nela houve e ainda haverá mudanças (ouvi isso em um Seminário do Mestrado, dito pelo Dr. Rogério Ribeiro). Mas preciso concordar que um dia, idosos já foram símbolo de sabedoria, e eram respeitados como nenhum outro ser humano.
Por favor, não entendam a postagem de hoje como um protesto contra os asilos. Sei que lá, podemos encontrar almas boas, que usam de sua profissão para aliviar as dores, lidar com situações que talvez em casa não se tem como fazer, enfim...
Eu apenas não posso concordar, que usar dinheiro (certos asilos cobram mais de R$2.500, 00) para manter longe dos olhos, aquilo que fere a nossa coragem... é desumano demais.
Ontem, vi pessoas lúcudas e pessoas senis, vi pessoas que clamavam por um abraço, e pessoas que não sentiam mais os abraços... e me perguntei: o que será que vai no íntimo do coração destas pessoas? Será que a loucura de alguns não é menos dolorosa do que ter que enfrentar que foram deixados lá?
Eu não sei... eu não consegui dormir direito, porque por cerca de uma hora, estive diante do maias frágil de todos os seres humanos: homens e mulheres que certamente tiveram uma vida, e agora parecem estar no mundo para cumprir uma missão que não compreendemos, mas que sem dúvida é dolorosa demais.
De uma coisa tive certeza: devemos dizer sempre aos que amamos, o quanto os amamos, e dizer isso enquanto são capazes de nos compreender, e se possível, cuidar de nossos idosos em casa, dando a eles o carinho e o amor que merecem, até que façam a 'sua viagem', e possamos dormir com a consciência tranquila de que retribuimos um pouco do muito que fizeram por nós.
Estamos na semana do idoso, e por isso precisamos discutir isso em nossa sociedade. Chega de 'tapar o sol com a peneira'. É hora de falar sobre eles... sobre os nossos 'vovôs e vovós', e que só sabe o valor que eles tem, quando não estão mais entre nós... aí é a saudade que castiga... mas se o coração estiver sem culpa, fica mais fácil conviver com a saudade.
Por isso, resolvi publicar o texto abaixo, que talvez nos fale ao coração.
bom dia!
APELO DE UM IDOSO
"Quem é que já não teve oportunidade de conhecer uma pessoa idosa, enferma, dependente, carente, solitária?
Talvez você tenha essa pessoa dentro do seu próprio lar. Uma mãe ou um pai nocauteado pela enfermidade ou pelas debilidades impostas pelo peso da idade.
Esse alguém, que ontem era forte e dinâmico, agora se movimenta com lentidão e, às vezes, nem se movimenta, tornando-se totalmente dependente da vontade alheia.
Se você tem uma mãe, um pai ou outro familiar nessas condições, pare um pouco; olhe nos olhos dessa pessoa e tente ler seus mais secretos pensamentos.
Talvez você possa ler em seus olhos tristes ou em seus lábios mudos um apelo comovente, que não tem coragem de verbalizar.
É, se pudéssemos ouvir o apelo de um idoso, talvez ele fosse mais ou menos assim:
Você, que está na flor da idade, considere que o despertar da vida é como o amanhecer. Tudo fica mais quente e mais alegre.
Mas o amanhecer não é eterno e a ele se sucedem outras fases do dia...o meu apelo é para que as crianças de hoje não esqueçam dos seus idosos de amanhã.
É para que os mais jovens relevem a minha mão trêmula e meu andar hesitante. Amparem-me por favor.
Se minha audição não é boa e tenho que me esforçar para ouvir o que você está dizendo, tenha compaixão.
Se minha visão é imperfeita e o meu entendimento é escasso, ajude-me com paciência.
Se minhas mãos tremem e derrubam tantas coisas no chão, por favor, não se irrite, tentei fazer o melhor que pude.
Se você me encontrar na rua, não faça de conta que não me viu; pare para conversar comigo; sinto-me tão só.
Se, na sua sensibilidade, me encontrar triste entre tantos que também estão, simplesmente partilhe um sorriso comigo e com eles. Seja solidário, eu necessito apenas de um pouco de carinho.
Se lhe contei pela terceira vez a mesma história, não me repreenda, simplesmente ouça-me. Se não falo coisa com coisa, não caçoe de mim.
Se estou doente e caminhando com dificuldade, não me abandone, preciso de um braço forte que ampare meus passos...
Sabe..., já vivi muitas primaveras, e sinto que o outono derradeiro se aproxima...
Eu sei que o ocaso da vida é como o entardecer...
Indica que é chegado o momento de partir...
Por isso lhe peço que me perdoe se tenho medo da morte e ajude-me a aceitar o adeus...
Fique mais tempo comigo... Para me dar segurança...
Os cabelos brancos e as rugas em meu rosto não impedem que eu queira repousar minha cabeça num colo seguro...
Sei que o trem da vida logo irá parar nesta estação, e eu terei que embarcar...
Sei também que terei que ir só, como só desembarquei nesta estação um dia...
Por tudo isso eu lhe peço para que não me negue a sua atenção e o seu carinho.
Logo estarei deixando esta vestimenta surrada pelo tempo, e rumarei para outra dimensão da vida, da vida eterna...
Eis meu apelo... Que pode também ser o seu, logo mais...
***
O ocaso da vida é como o entardecer...
Indica que é chegado o momento de partir...
Mas, nem sempre a hora de partir se dá no entardecer...
Há aqueles que retornam no mesmo trem que chegam.
Há os que se demoram por aqui apenas algumas horas, dias, meses...
A única certeza é que todos retornamos um dia para a pátria verdadeira, que é a pátria espiritual.
Por essa razão, vale a pena viver intensamente cada minuto, dando à vida a importância que ela tem.
E viver intensamente é enaltecer o tempo, no desenvolvimento das nobres virtudes que o Criador depositou na intimidade de cada filho Seu."
5 comentários:
Recebi já muitas críticas por ter feitos escolhas na vida (pessoais e profissionais) em benefício de meus pais, um casal lindooooooooo de idosos.
Até hj de certa forma, algumas pessoas acham q eu deveria "cuidar da minha vida".
O engano delas é pensar que nossa vida é desvinculada de outras e principalmente de nossos familiares mais proximos. Eu poderia ter me mudado para a Nova Zelândia, mas a saudade e a preocupação com meus pais não me deixariam enqto eu estivesse "cuidando só da minha vida".
Não critico quem fez esta escolha, mas minha vida inclui meus pais. Tenho prazer em serví-los, em amá-los e honrá-los.
Dani, obrigada por esta postagem.
Os jovens precisam saber e ter responsabilidades com aqueles que lhes deram a vida. Quem sabe outras pessoas se sensibilizem com esta ordenança de amor q é amar e honrar os nossos pais.
Fica na Paz!
Professora, gostei muito desta sua postagem. Infelizmente nós vivemos hoje numa sociedade que não valoriza o idoso.
Contudo, acho que a culpa é também do próprio idoso, da sua geração, que não preparou as mais novas para entendê-lo.
A grande verdade é essa, a gente se esquece que um dia também ficaremos velhos e dependentes. A gente se esquece que como aqueles infelizes velhos e enfermos, n´so também poderemos ficar do mesmo jeito. Daí a necessidade de procurarmos tratar bem os nossos filhos e de prepará-los para cuidar de nós.
No meu entendimento, acredito que os filhos, naturalmente devem ser criandos e cuidados pelos pais e no mesmo sentido de obrigação e gratidão devem os filhos cuidarem de seus velhos.
Por isso, sem dúvida, eu concordo com você. A educação também passa (e muito) por essa questão.
Vamos valorizar os idosos. Com eles temos ainda muito o que aprender. Vamos amá-los e respeitar sua dignidade. Fazer o bem só nós traz coisas boas, eu garanto :)
Parabéns pela postagem!
Augusto TM
Dine, sei da sua dedicação e me orgulho muito de ter uma amiga como você.
Augusto TM, agora não há mais que procurar os culpados... precisamos apenas ensinar os mais novos :).
Abraços a todos.
Obrigada pela participação.
Lindo texto!
Obrigada! ;)
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